terça-feira, 5 de maio de 2015

Dilema

Precisava comprar um guarda-chuva para o Martim, que agora vai de ônibus para escola e percorre um trecho a pé. Não que ande chovendo muito, mas diz a Lei de Murphy que a chance de cair um pé d’água aumenta significativamente quando você não pode chegar ensopado à aula.
Então, na hora do almoço, passei no carrinho do homem do alho que ampliou seus negócios e agora vende também sombrinhas e guarda-chuvas. Ele deve ter seus sessenta anos, mas aparenta mais. Pele enrugada e queimada de sol, cabelos curtos e brancos, sorriso amplo e desdentado, ele exibe os diferentes modelos, explica as funcionalidades e informa os valores que, bem sei, podem ser facilmente regateados.
Escolho um modelo, pergunto o preço. Lembro então que estou sem dinheiro. Ele não aceita cartão. Decido ir almoçar, tirar dinheiro e passar na volta.
Entro na galeria do Copan. Há uma lojinha de quinquilharias que já me salvou em várias circunstâncias. Tem de um tudo: de fones de ouvido a adesivos de parede importados, de baterias a lenços de seda e móbiles. E guarda-chuvas.
As donas, duas moças, são sempre simpáticas e atenciosas. Aceitam cartão. Parcelam. Elas têm o mesmo modelo de guarda-chuva que escolhi no carrinho do homem do alho. Idêntico. Mesma marca. Mas elas cobram 30% mais caro. Alegam que o dele deve ser falsificado. Não é. Ninguém gasta energia falsificando guarda-chuva. Até onde eu sei, guarda-chuva não tem grife.
Estou com fome. Então deixo para decidir depois de comer.
De um lado, o homem do alho, com sua idade, a família que deve ter para sustentar, a falta de perspectiva e seu carrinho repleto de alhos e guarda-chuvas.
De outro, as mocinhas das quinquilharias, que pagam aluguel, luz, impostos e taxas dos cartões, investem no seu pequeno negócio, que deve sustentar seus filhos pequenos ou seus pais idosos.
Diante disso, de quem eu deveria comprar?

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