terça-feira, 5 de maio de 2015

Jalapaixão - 1ª parte


Há momentos que você sabe que está vivendo algo especial. Sabe que não irá esquecer. Que vai ter saudades e vontade de rebobinar a fita pra revivê-lo. Alguns são extremamente rápidos e delimitados:  o nascimento de um filho, por exemplo. O instante em que, pela primeira vez, você olha dentro dos olhos daquele serzinho que já virou sua vida de ponta-cabeça. Ou o término de uma prova de Iron: o tapete azul, a visão do pórtico de chegada, o fim. Outras ocasiões, podem não ser tão bem delimitadas, mas também trazem uma carga de emoções profundas. O início de uma paixão ou, como foi nosso caso recentemente, uma viagem.
Estou ainda sob o impacto da experiência. Portanto, este não será um post imparcial, isento, objetivo. Pelo contrário, espero relatar a viagem com cores de paixão - as mesmas, por sinal, que tingem o céu do Jalapão ao entardecer.

Não é amor a primeira vista, já que ele não facilita as coisas para o visitante. Não se entrega, não se exibe, nem busca seduzir. É seco, bruto, agreste. O desavisado, ao aproximar-se, pode ficar com a primeira impressão e desistir de seguir em frente. Melhor assim. Não é para os fracos, nem para os frescos. 

Lá fomos nós cinco: Ian, Félix e Martim - meus filhos, Roger - meu marido, e eu, numa expedição, com mais quinze aventureiros, seis guias e alguns acompanhantes, que lá estavam por razões diversas. Um grupo heterogêneo, vindo de diferentes partes do Brasil.

Os guias - Sergio, André, Paulinho, Galera, Kiko e Samir, não apenas cuidavam de nossa segurança, transporte, alimentação e acampamento mas, sobretudo, nos iniciaram nos segredos do Jalapão. Como aquele amante experiente, que conhece as curvas e os caprichos da mulher amada, foram nos levando para dentro do Jalapão. Ao mesmo tempo em que  o Jalapão entrava dentro de nós.

O Mamute
O primeiro dia, é de muito chão. Instalados no Mamute - um caminhão de bombeiro alemão adaptado para esta nova função-, sacudimos no estradão de areia vermelha por várias horas, atravessando uma paisagem estranha aos nossos olhos. Horizontes sem fim, interrompidos pelas chamadas "serras": formações altas, que se destacam do chão, cujo topo é totalmente plano. Vemos uma revoada. Parecem beija-flores, mas são gafanhotos. De vez em quando, uma concentração maior de verdes, indica a presença de água: são as veredas, os oásis do cerrado.


Nossas ocas, à sombra da mangueira
Chegamos então ao local de nosso primeiro pouso. Uma fazenda. O acampamento é montado enquanto o almoço é servido. Tanto um, quanto outro, ficam à sombra de uma enorme mangueira. André e Kiko ensinam ao grupo como montar e desmontar as barracas. Logo em seguida à  aula expositiva: aplicação prática. Meninos e homens trabalham na construção de seu lar provisório. Com a ajuda dos guias, que logo apareciam ao lado dos que estavam com dificuldades, a pequena vila foi instalada.

Ao cair da tarde, rumamos para o primeiro atrativo oficial da viagem: Serra do Gorgulho. Para o deleite de meninos (e de meninos crescidos também), fomos autorizados a subir nas costas do Mamute. O trajeto, curto, foi feito de forma lenta e segura, para não haver riscos e para que curtíssemos a paisagem.

O Gorgulho é uma formação de arenito, que irrompe do chão, vermelha e erodida.  Dali do alto, com 360 graus de horizontes, vimos o sol descer e o céu ficar da cor da terra. Ali, o Jalapão segurou a minha mão, com doçura, mas com firmeza. E seu toque me agradou.


(A expedição Jalapão foi organizada pela Venturas e Aventuras)

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