terça-feira, 5 de maio de 2015

Na Caixinha

Demissão homologada, fui sacar o Fundo de Garantia na agência da Caixa mais próxima.
Caminho até a Domingos de Morais, entro na agência, retiro a senha no totem e aguardo. O local está vazio e rapidamente sou atendida. Que bom, penso. Vai ser rápido.
Então, o tipo que me atende, pega os papéis, olha pra mim. Olha os papéis de novo. Clica seu mouse, olha o computador. E me devolve os papéis. “Lamento”. Olho sem entender. “Não tenho alçada para isso”. Continuo olhando. Ele explica: “É o valor. Você trabalhou muitos anos?” Aceno que sim. “Então. O computador não autoriza. Você vai ter de ir lá em cima. Falar com a Ivone ou com a Edileusa”. E arremata “se a minha autoestima dependesse do que este sistema me autoriza, eu já estaria em depressão. Volte ali no totem e pegue uma nova senha. Mas deve ser rápido.”
Faço o que ele diz. De posse do novo número, subo. Ivone e Edileusa estão ocupadas. Aguardo. Mas, como já é hora do almoço, Ivone sai e quem me atende é sua assistente, Débora, que não deve ter mais que 22 anos.
Sorri seu sorriso Caixa. Pega meus papéis. Ergue a sobrancelha. “Veio resgatar seu Fundo?” Aceno positivamente. “Não quer aproveitar e abrir uma conta aqui na Caixa?” “Não, obrigada” – respondo educada, mas categórica. Seu sorriso Caixa desaparece.
Ela se concentra nos papéis que lhe entreguei.
Ergue a cabeça e aponta, veemente, para um dos campos do termo de rescisão de contrato. “Aqui”, diz triunfante, “falta a Unidade da Federação – SP, está vendo?! E aqui também, estes dois campos, estão sem preencher. Tinha que estar escrito ‘zero’”.
Olho para ela ainda sem entender o que está acontecendo. “Como assim?” É só o que consigo dizer.
“Você vai ter que voltar na empresa e eles vão ter de escrever uma observação neste documento. Aí você volta aqui.”
“Você está dizendo que não posso transferir meu fundo por causa disso? Acabei de homologar, está tudo certo, conferido. Que importância tem isso? Dois zeros?? E a unidade da federação, que, por sinal, tem outro campo em que isso está escrito!?”
“Para a Caixa é muito importante. Você não pode sacar sem isso. Tem que fazer a retificação.” Ela está vingada.
Ligo pro Carlão, do RH, na frente dela. Ele não acredita. “Funcionária da Caixa”, bufa ele “é assim, encasquetou. Tenta em outra agência. Se não der, mando recolher o formulário na sua casa.”
Fico exasperada. Tirei o dia pra resolver este assunto e não vou conseguir. No dia seguinte, estarei fora de São Paulo.
Encaro a menina “È sério mesmo? Você vai criar caso por causa disso?”. Ela não responde.
Arranco os papéis das mãos dela e desço a escada pisando forte.
Não sei o que fazer. Estou com fome. Irritada. Vou caminhando em direção ao metrô. Antes de descer as escadas, decido perguntar se há uma agência da Caixa por ali.
Há. Dobrando a esquina. Respiro fundo e entro.
No totem, aviso o moço que se trata do FGTS mas precisa ser com alguém da gerência. Ganho uma senha e dois nomes: Paloma e Suzana.
“Desta vez”, penso, “não vou aceitar outra qualquer”.
Subo a escada e pergunto por elas. Paloma está disponível. É uma menina. Mas tem um sorriso. Um sorriso que não é da Caixa.
Ela me diz pra sentar. Estendo meus papéis pra ela. “Você que vai resolver meus problemas?” “Claro! Que problemas?” “Preciso resgatar este Fundo hoje. Tem jeito?” “Tem, lógico”. E ela vai passando os olhos naquele mesmo formulário e conferindo os dados relevantes com meus documentos.
“Você não vai aplicar pelo menos uma parte?” ela pergunta. “Vou sim”. “Já sabe em quê?” “Uma parte quero deixar em algum rendimento de médio prazo e uma parte tem de ser daqueles com baixa automática”.
E então, com simpatia, tato e uma planilha com as porcentagens dos rendimentos, ela me oferece a opção do seu banco. E eu decido então aceitar sua proposta e deixar a maior parte do dinheiro com ela.
No mais conversamos sobre a faculdade que ela está fazendo – administração – e seu sonho – veterinária. E sobre vir para São Paulo e viver sozinha e sobre e correr e sobre ter lesões e namorados. Ela só tem 22 anos. Provavelmente a mesma idade da outra (como ela chamava mesmo?). Enquanto isso, ela libera meu Fundo, faz a transferência, abre a conta para a aplicação, me mostra como funciona o site. Tudo isso leva uns 40 minutos.
Despedimo-nos como velhas amigas.
Vou caminhando em direção ao metro. Então, me lembro de Julia Roberts e estico a caminhada de volta até a primeira agência.
Subo até o primeiro andar. E a moça do sorriso caixinha está atendendo um jovem.
Estico os dois papéis na frente do seu nariz: o formulário rejeitado e o comprovante dos meus títulos de investimento recém adquiridos.
“Big mistake... huge...” digo, sorrio e saio requebrando escada abaixo
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